Do ponto de vista objetivo, os pensadores gregos tinham claro o que queriam dizer. O que nos interessa num primeiro momento é reconhecer a estrutura desta maneira de pensar. A forma dos filósofos se comunicarem é novidade, mas indicavam influência direta dos mitos. A sua lógica, restrita e unificadora, tinha pressupostos racionais indiscutíveis.
Os Pensadores Originários ou pré-socráticos estavam preocupados com a geração e corrupção das coisas. O surgimento e o desaparecimento das coisas na natureza proporciona um sério questionamento. A pergunta inicial é: De onde pode vir toda essa quantidade de elementos que formam a natureza e de que forma eles se sustentam?
Um princípio, uma origem, um iniciador do processo de geração das coisas. Eram essas as preocupações iniciais do Pensamento que depois veio a se chamar de Filosofia. Na sua origem a Filosofia já se torna crítica, pois os elementos que toma como proposta são questionadores. Há aqui uma busca racional para o encontro com as respostas a serem dadas destas questões.
A constante busca da origem incita os pensadores a estabelecerem como primeira forma de explicar o cosmos, os elementos da natureza. A princípio os pensadores indicam um elemento como formador do cosmos (Tales, Anaximandro, Anaxímenes). Existe uma ideia de movimento que do elemento primordial se auto-transforma em outros para a continuação do processo gerador (Heráclito). A origem também é explicada com a pluralidade de elementos (Empédocles e Anaxágoras). São dadas formas eternas aos elementos originários. Esta eternidade é postulada tendo em vista a sua possibilidade de modificação e permanência. A mudança não é única na formação do cosmos. O Ser é compreendido como esta necessidade da permanência (Parmênides).
É nos elementos da natureza que se encontram as respostas dadas pelos mitos, aos questionamentos sobre a vida. Para compreender o modo de vida grega os mitos são fundamentais. Eles demonstram uma capacidade de encontrar respostas para a sua condição de vida, através de explicações mitológicas bem elaboradas. Talvez possamos até dar a esta primitiva forma de "racionalidade" a responsabilidade inicial de encontro com a origem, embora que de forma mítica.
Dar uma única interpretação para explicar esses pensadores se constitui numa limitação (e até poderíamos dizer redundância), pois as suas formas de pensamentos foram diversas. Estas diversificações de pensamentos é que tornou a filosofia muito rica e aberta. Esta abertura indica um caminho que em certo sentido proporciona a condição necessária para o filosofar. Na formação inicial do pensamento filosófico observa-se uma conformação racional única e fundamental. Esses elementos são a fundamentação da filosofia. Portanto a diversidade, a abertura e a racionalidade dão uma firmeza à condição potencial da filosofia.
Uma elaboração inicial que dê a confiança de se tornar explicação do cosmos, das condições gerais da vida grega e das implicações religiosas torna-se necessidade. As confrontações surgidas das condições sociais da Cidade-estado, das eloquências proporcionadas pelas assembleias e das discussões originadas da democracia produz um efeito que dará à vida grega uma diferença fundamental: a de perceber distâncias, condicionar amplitudes, sentir o significado da moral, propor orientações baseadas na abertura.
A racionalidade é a diferenciação da Filosofia em relação ao pensamento mitológico. Diferença que se tornará frequente já entre os primeiros pensadores. Tales afirma a água como esta origem. Daí não dá para perceber a diferença entre a água de Tales e o Oceano originador das coisas do pensamento mítico. A diferença está no princípio. Tales dá como resposta última a própria afirmação, característica da racionalidade, enquanto que os Oceanos do pensamento mítico são condicionados e justificados pelos deuses. A resposta está em que a Filosofia usa a racionalidade como justificação e os mitos usam o sobrenatural.