Certamente poderia até viver uma vida feliz sem Filosofia. Mas será que chegaria a algum lugar, sem procurar refletir sobre o que elaborei, sobre se aquele pensamento está correto ou não. Certamente precisarei refletir sobre este pensamento. Através desta reflexão já estarei utilizando as características da Filosofia. Afinal todos os que passam a refletir detidamente estão tendo uma experiência filosófica. Mas será que todos somos filósofos então? Esta é uma pergunta bastante interessante, pois se todos somos filósofos, para que então estudá-la? Poderíamos até responder a esta questão com uma boa dose de lógica: estudá-la para entender o seu significado. Acredito que tal resposta não seja totalmente satisfatória, pois apreender em forma de conceitos a filosofia não nos dará certamente o objetivo a que ela se propõe. Talvez seja possível, na melhor das hipóteses entende-la, por aquilo que os pensadores disseram ou ainda pela forma como o pensador propôs o seu significado.
Mais concretamente talvez possamos entender melhor a Filosofia buscando atitudes filosóficas na nossa vida cotidiana. Certo é que se nos confrontarmos diretamente com ela teremos uma imensa repulsa. Mas quando nos abrimos e deixamos que o seu significado atravesse as nossas ações, as nossas reflexões. Em nossas vidas estaremos já apresentando uma atitude filosófica mais profunda do que simplesmente questionar as coisas por questionar.
Avançando um pouco mais no processo que chamamos de reflexão podemos afirmar ainda que a Filosofia pretende ser a controvérsia, a polêmica, no meio de tanto pensamento que pretende ser mais útil que outros. O pensamento filosófico é daqueles que aprendemos de forma demorada, mas duradoura. Ele é um tipo de cultura que se afasta da “cultura lixo”. Formalizando este ponto, e filosoficamente falando, ele é um pensar profundo, abundante, totalizador, crítico, contestador, elaborado, racional e sempre inovador.
O pensamento filosófico é profundo porque alcança as raízes do pensamento (pesquisar mais sobre se isto é verdade). Ele é abundante porque procura ser completo, não resumido. Ele é totalizador porque procura alcançar o máximo da sua representação. É crítico porque analisa o significado das coisas. É contestador porque se contrapõe a um tipo de pensamento ingênuo e dominador. É elaborado porque traz em si característica de ser completo, por conseqüência complexo. É racional, pois é o que dá ao ser humano a capacidade de pensar logicamente. Enfim, é inovador porque assim que surge uma forma nova de pensar não está fora do pensamento filosófico. Dando assim a possibilidade ao pensamento filosófico ter novos ares.
É exclusivo de a filosofia proporcionar o conhecimento em suas múltiplas faces. Refletir de forma profunda sobre os mais diversos temas.
“Não há nenhuma outra instância onde se reflete sobre o fundamento e os limites do conhecimento, tratando de gerar critérios sobre a distinção entre conhecimento fundamentado e não fundamentado e de tirar fora o ‘obscurantismo’ e a ‘mistificação’ da ciência; nenhum outro âmbito onde se reflete sobre problemas éticos, estéticos, antropológicos, sócio-históricos e culturais, procurando um antídoto contra o dogmatismo, o fanatismo e a intolerância”.
“Uma instância, além disso, onde se desenvolvem as capacidades de argumentação e discussão de idéias explicitamente fundamentadas e com elucidação dos princípios e supostos implicados como modelo privilegiado de qualquer análise, elucidação e avaliação de supostos de um discurso que inclua princípios gerais”. “Tudo isto faz dos cursos de Filosofia uma instância insubstituível na estruturação de uma atitude de abertura mental, de análise, de fundamentação e de exigência de fundamentação, que são imprescindíveis para a participação responsável e livre em uma sociedade democrática” (Navia: in: criticanarede.com). Ela pode também proporcionar “(…) reflexão sobre as condições sociais, culturais e ideológicas que rodeiam e incidem sobre a educação e muito principalmente sobre o ensino desta atividade crítica radical e globalizadora que é a Filosofia” (NAVIA, 2005).
Há que se observar que a filosofia busca os fundamentos em que estão assentados sobre toda a realidade. É lícito observarmos que na nossa sociedade o que geralmente se cultiva nem sempre tem um valor cultural aceitável para que se possam compreender aspectos estudados pela filosofia.
“Na esfera cultural o panorama - em princípio - não é mais alentador: carentes de livros, das fundamentais enciclopédias (que a nossa geração conheceu) e de jornais, os adolescentes - e seus pais - se afundam numa TV de baixíssimo nível cultural, cultivadora de toda a classe de simplismos e imediatismos, onde inclusivamente não escasseiam as mensagens contra-culturais e anti-intelectuais. A abertura que poderia significar o mundo informático resulta também inútil: sem guias, sem docentes que selecionem e coordenem os "sites" de valor cultural, os jovens se submergem nos locais mais banais de limitadíssimos recursos culturais e lingüísticos ou se limitam a uma conversação empobrecida e anônima que antes se desenvolvia de forma mais enriquecedora.
O efeito deste entorno "cultural" sobre o ensino da Filosofia é também importante uma vez que esta requer uma certa base de cultura geral e certas capacidades lingüísticas e de abstração, que nestas condições tendem a ser substituídas por um pensamento concreto e imediatista, e uma linguagem empobrecida, com os quais é muito difícil abordar problemas metateóricos ou abstrair os fundamentos e os princípios.(…) Em realidade, mais que de uma cultura do pósmodernismo, trata-se de uma cultura da frustração reiterada das promessas de mudança sobre a base de décadas de autoritarismo antipopular, que tende a produzir uma espécie de paradoxal pósmodernismo em sociedades não industrializadas e fortemente estratificadas. O certo é que se assiste a uma perda dos projetos utópicos e coletivos, o que gera niilismo, imediatismo, individualismo, depressão e corrupção:
- cínico "cada um por si";
- uma sensação real de que as grandes decisões são tomadas em distantes centros de poder, o que gera uma paralisante sensação de impotência e ceticismo;
- uma perda do papel nivelador da educação, depreciação do esforço de longo prazo e desprestígio da figura docente, que já não opera como modelo de identificação;
- o homem de expediências ou o jovem com olfato oportunista é o modelo de identificação difundido pelos meios” (NAVIA, 2005).